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JUL

Zico e os pequenos aprendizes de futebol

Hoje (texto escrito em 01/07/2016),

vendo a emocionante reportagem da Dani Monteiro no Mais Você, em que um homem se encontra com seu ídolo, o jogador Zico, lembrei de uma das primeiras reportagens que fiz para o SPTV, em 1997, sobre pequenos aprendizes de futebol. Foi no Instituto Ayrton Senna, um belíssimo trabalho da irmã do piloto, Viviane Senna, que visava ajudar crianças com dificuldades na escola. O instituto também bancava projetos esportivos que atraíssem as crianças, com a condição de continuar na escola e tirar boas notas.

Fomos acompanhar um desses projetos, com dezenas de meninos de uma comunidade carente ao lado da USP, Universidade de São Paulo. Eles treinavam futebol de manhã no campo da universidade, onde recebiam um belo café da manhã, e à tarde tinham que frequentar a escola.

Um dos meninos nos surpreendeu pela admiração que tinha e até pela semelhança física com o jogador Zico, astro maior de eras passadas do time Flamengo, do Rio de Janeiro. O jeito de jogar do menino lembrava mesmo o do Galinho de Quintino, que conheci ainda na ativa. Era pequeno, perninhas arqueadas, rápido e goleador.

Depois de gravar o treino, escolhemos um dos garotos e fomos até a casa dele, conhecer a família. Chegamos por volta de 11:30, para mostrar um pouco da rotina do menino, que entrava à tarde na escola. Só a mãe estava em casa. Esperamos um pouco… e nada. O menino, sentado na sala, olhava tímido para a equipe de reportagem. A mãe esfregava as mãos, sem saber o que fazer. O cinegrafista me olhava, esperando para saber o que devia gravar ali; e eu esperava que ela servisse o almoço para o filho, antes de ir para o colégio.

Alguns minutos depois, a situação persistia.

Pedi um copo d’água, para ter uma desculpa de ir até a cozinha. Nada sobre o fogão, nem em lugar nenhum. Perguntei se ele almoçaria no colégio. A mãe disse que só haveria um lanche, um pouco mais tarde. Não aguentei e perguntei: “Mas ele correu a manhã inteira, jogando bola. Não vai almoçar antes da aula?”

Ela, com o olhar baixo, mostrou um prato coberto com pano. Nele, havia algumas metades de pão francês com margarina e açúcar. “É isso que temos para ele comer”, disse, “Mas ele está com vergonha de comer na frente de vocês”.

Constrangida, pedi à equipe que se retirasse, dizendo que nós faríamos só a chegada do menino à escola. De longe, pude vê-lo, aliviado, indo para a cozinha pegar os pãezinhos.

Ainda hoje, olhando meus três filhos saudáveis e com um apetite de leão, paro às vezes para pensar naquele menino. E penso: “Não é justo, não é justo, não é justo”.

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por Carla Vilhena
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COMENTÁRIOS
(4) Comentário(s)
  1. Gabi Amorim disse:

    Tocante <3

    1. Obrigada! Venha sempre ler os posts!

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